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O que é o Kjeme Itchok?

['kjme i'tʃok], ou Casa da Língua Krenak, é uma iniciativa interdisciplinar que busca contribuir com a preservação e partilha da língua e dos saberes Krenak. 

  • Em maio de 1808, Dom João VI declarou "Guerra Justa" ao povo Krenak. São mais de 200 anos de resistência histórica, cultural e linguística. O povo borum é composto pelos sobreviventes do processo colonizatório carregado primeiro pelos portugueses, mas perpetrado por seus filhos brasileiros. Além de borum (a essência do ser), também foram conhecidos como aimorés — nome dado pelos vizinhos e, então, rivais povos Tupi da costa leste; nikui txekà, que significa "grandes orelhas" em Maxakali; e, mais notoriamente, botocudos pelos colonos que os identificavam pelos batoques ("rolhas") que enfeitavam seus lábios e orelhas. Todavia, suas autodenominações também são diversos marcadores de identidade. Registros do século XIX mostram antecedentes borum se identificando como engrekmun, que significa nômade ou andarilho, que tem gosto pelo caminhar. O nome Krenak, diz a história, foi adotado mais recentemente, e apresenta a aglutinação dos morfemas kren (cabeça) e nak (terra).

  • Apesar de nativos ao Watu (Rio doce), esforços genocidas da ditadura militar (1964-1985), especialmente casos de deslocamento forçado, distribuíram o povo entre os estados de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo. Maiores detalhes sobre a disseminação forçada podem ser entendidos a partir de obras como "Na Trilha Guerreira dos Borun" de Geralda Soares (2008) e o documentário "Reformatório Krenak" produzido pelo Itaú Cultural (2016). Hoje, populações significativas se encontram na TI Indígena Krenak, localizada à margem esquerda do Rio Doce, próximo a cidade de Resplendor (MG) e na Aldeia Vanuíre, em Tupã (SP).

  • De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de 200 idiomas são falados em território brasileiro. Desses, cerca de 180 são línguas indígenas. O Borum Itchok (língua do povo Borum) é a última sobrevivente da família linguística botocuda, pertencente ao tronco Macro-Jê. 

    As teorias de classificação linguística no Brasil se baseiam, em sua maioria, nos trabalhos de Aryon Dall'Igna Rodrigues (1925-2014), que argumentou pela existência de dois troncos principais entre os povos originários do que hoje é o Brasil: o Macro-Jê e o Tupi. Dentro do tronco Macro-Jê, a família botocudo tem relativo isolamento, não demonstrando grande proximidade com outros idiomas do tronco. Ademais, segundo o Atlas Mundial das Línguas em Perigo da UNESCO, Krenak está em "perigo crítico de extinção", contando com menos de dez falantes fluentes de acordo com o Projeto de Idiomas em Risco

Em um só lugar:

O Kjeme Itchok se propõe a ser um repositório digital vivo, continuamente atualizado, do idioma Krenak. Considerando o estado de risco crítico da língua, é importante tomar ações imediatas para documentação, revitalização e ensino do Krenak para futuras gerações. Todavia, a maioria dos esforços de teor linguístico que foram conduzidos na língua se restringiram ao ambiente acadêmico — publicações científicas, dissertações de mestrado e teses de doutorado principalmente. A comunidade Krenak, na maioria dos casos, foi deixada à deriva, sem acesso aos materiais produzidos a partir de nossos legados culturais. Assim, nossa intenção é trazer de volta à luz recursos que podem contribuir com a causa linguística Krenak, repatriando-os digitalmente.

Image by Dan Gold
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Apoio Institucional

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral

Coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da Universidade de Brasília.

Antônio (Po'at) Jorge M B Silva

Acadêmico de Linguística e Estudos Indígenas e Nativo Americanos em Dartmouth College.

Geilson Krenak

Graduado em Ciências Sociais e acadêmico de Fonoaudiologia pela Univale

Girley Krenak

Graduado em Agronomia e mestrando em Gestão Integrada de Território pela Univale.

Luka Faccini Zanon

Acadêmico de Linguística e Espanhol em Dartmouth College.

Mariana (Mi'ham) Jorge M B Silva

Acadêmica de Belas Artes e Educação em Direitos Humanos na Universidade Federal de Minas Gerais

Maycon Krenak

Cacique, acadêmico de Enfermagem

Nádia Maria Jorge Medeiros

Professora no curso de Pedagogia na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

O Kjeme Itchok é mantido por uma equipe de estudantes, professores e profissionais motivados a preservar a cultura e língua Krenak.

A iniciativa foi inicialmente financiada através do Davis Projects for Peace em 2023.

Colaboradores

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